segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O adeus de um ídolo...




Ídolos... O que os verdadeiros ídolos significam para uma apaixonada torcida?

Por que milhares de pessoas vão a um estádio, movidas pela paixão, para gritar por seus jogadores?


É, pela paixão, por força maior. Paixão esta, que três homens sentiam por um clube, por uma nação. Paixão estampada na raça de Régis, na dedicação de Giovani... nos gols de Milar...


Paixão que ficava evidente a cada flechada que Milar disparava contra seus adversários, a cada carrinho de Régis, no dia-a-dia do Giovani.


O preparador de goleiros do Grêmio Esportivo Brasil, além de excelente profissional, era Xavante de verdade. Queria deixar o clube para cuidar de suas escolhinhas. Para ele o futebol ia muito além das quatro linhas. Mas não conseguiu. Decidiu permanecer no Brasil... Futebol é paixão!!! E ele, era apaixonado pelo que fazia. No ano passado tive a oportunidade de acompanhar a delegação do Rubro-negro em alguns jogos do Gauchão, fora do Bento Freitas. Oportunidade única para um membro da imprensa. Conheci o que é uma concentração, vi como era o clima das viagens, mas o principal, conheci este guerreiro. Um rapaz simples, humilde, de bom coração. Um rapaz que vai deixar saudade.

Régis também era apaixonado pelo que fazia. Ao lado de Alex Martins, formou uma das melhores duplas de zaga que eu já vi no interior do estado. Futebol é paixão... e esses dois zagueiros se completavam, eram como irmãos. Sempre juntos no mesmo quarto, no mesmo banco do ônibus. Um guerreiro. Identificado com o clube. Carrinhos chegadas fortes, mas sempre leais, bom posicionamento... um cão de guarda. O que a torcida gosta. O que o torcedor Xavante quer e sempre quis. Um Rubro-negro. Um Xavante. Cara feia dentro de campo, mas sempre de bom-humor fora dele. Vale retratar que chegando de uma viagem, eu não tinha como voltar pra casa, e este sensacional sujeito me deu uma caroninha. Um ídolo. Um ótimo zagueiro, mas acima de tudo, um ótimo ser humano.


Antes de sair para o amistoso contra o Santa Cruz, Milar, bem-humorado como sempre, fez mais uma piadinha para o seu João, funcionário do Bento Freitas, que cortava o gramado. Ele dizia: “Seu João, corta direitinho pelas pontas que eu quero fazer gol no domingo hein!” Ele adorava dominar a bola e sair cortando em velocidade pra cima dos zagueiros. Com 34 anos, parecia um garoto com a bola nos pés. É, e os garotos não conseguiam acompanhá-lo. Nascido no Chuí, cidade onde eu cresci, onde ele é e sempre será um ídolo, uma referência. Mais um sujeito simples, bem humorado, humilde, com boa vontade. Em Veranópolis, eu estava sem cabine para poder gravar o jogo para a TV UCPel. Preocupado, corria de uma lado para o outro. Eu estava cruzando o gramado quando a equipe do Brasil entrava pra fazer o aquecimento. A preocupação estampada no meu rosto, quando Claudio Milar me perguntou: “O que houve?” ...

Ele parou o aquecimento para tentar me ajudar. Chamou um funcionário do estádio, disse que eu tinha viajado muitos quilômetros para gravar o jogo. O funcionário do VEC ficou intimidado com a situação. Estamos falando de Claudio Milar. Enfim, graças a ele gravei a partida. E por sorte o preparador físico não ficou “chateado” comigo.

Mas o momento mais importante da carreira deste uruguaio foi no estádio Bento Freitas contra o São José de Porto Alegre. Aos 8 minutos e 45 segundos, ele entrava pra história ao marcar seu centésimo gol com a camisa do Xavante. De falta. Uma flechada. A centésima flechada. O centésimo momento de alegria, loucura, felicidade que ele proporcionou para esta apaixonada torcida. Futebol é paixão... Não bastando cem gols, ele queria mais. Abriu mão de ser jogador e se transformou em artista. Fez uma pintura. Dançou na frente do goleiro. Fez um golaço.

Graças a esse gol, juntamente com César Soares, que na época trabalhava comigo na TV UCPel, fizemos uma matéria sobre a vida, a carreira de Roberto Claudio Milar Decuadra. Fomos até a casa dele. E fomos muito bem recebidos. Conhecemos, por meio de fotos, a vida deste Xavante. Vimos em um imenso pôster, que ele era ídolo também na Polônia, quando jogava pelo Pogón. Ele era fora de série.


Depois do centésimo, na próxima viagem que fiz com o Xavante ele rindo me disse: “visse o que fizeram comigo em Porto Alegre? Me chamaram de CINDERELA!! Dá pra acreditar!?” Era o bom humor do ídolo. Ídolo que não tinha medo de pular o alambrado e fazer a festa com a torcida. Ídolo que não se intimidava com zagueiros grandes e fortes. Ídolo identificado com o clube. O maior ídolo da história recente do Brasil. Isso se não é o maior ídolo da história do Brasil. Ídolo que queria ser presidente do clube, e não tenho dúvida alguma de que seria. Ídolo que queria encerrar a carreira no G.E. Brasil. E encerrou da pior forma possível. Mas encerrou fazendo o que ele mais sabia fazer. Gols. Parece que a camisa sete nunca mais ficará tão bem em outro atleta quanto ficava no Milar. Parece que camisa e jogador eram um só. Parece que a sete foi feita especialmente pra ele.


A cidade de Pelotas está triste. A nação Rubro-negra chora. Mas o futebol é movido pela paixão. A saudade vai ficar, mas esta tristeza se transformará em orgulho, em recordações. Claudio Milar, Régis e Giovani Guimarães. Três Xavantes. Três guerreiros. Ídolos que sempre trouxeram alegrias a uma apaixonada torcida. E que se foram. Eternizados... Pra sempre na memória de cada apaixonado torcedor Rubro-negro.

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